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sexta-feira, 21 de maio de 2010
Sex Shop "de pobre"
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sexta-feira, 14 de maio de 2010
Infidelidade é biológica
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Rave do Sexo
Reportagem Marcela Varasquim, do Jornal Comunicação (UFPR)
Por fora impressiona. A casa de swing Liberty não tem nada capaz de identificá-la. Nem faixa, nem foto, nem nome. Apenas um letreiro grande com a inscrição do número: 128. Uma parede alta e uma porta também alta, com entrada apenas para carros, me amedrontaram à primeira vista. Talvez as adjacências não saibam que ali, ao lado de suas moradias, o sexo não é um ato pecaminoso; é libertação.
É a primeira vez que acontece, no Brasil, uma Rave do Sexo. E era atrás daquele muro aparentemente intransponível que se concretizaria este momento histórico, no dia 7 de maio, sexta-feira. Na frente não havia ninguém. Esperava ao menos uma fila, como em qualquer balada. Mas, no auge de minha ingenuidade, havia esquecido que o evento não seria uma balada. Seria uma festa cujo sigilo e discrição me fizeram dar um passo para trás na minha ousadia jornalística de entrar e entrevistar quem estivesse à frente.
Hesitei várias vezes na tentativa de não permitir que esta reportagem terminasse ali, na obscuridade daquela cena pouco iluminada e enigmática. Até que chegou um carro, talvez o primeiro a adentrar aquela escuridão. O portão se abriu e meus olhos também. Não pude enxergar muito, apenas uma luz verde a iluminar um pequeno canto do local. O carro entrou e, rapidamente, o grande portão se fechou, formando novamente a fotografia que tanto me instigava.
Do lado de dentro do portão
Enquanto carros entravam e o portão abria e fechava repetidas vezes, eu ficava ali, do outro lado da rua, imóvel e receosa. Observava com detalhes aquela rua esburacada e sem qualquer iluminação do bairro Parolin, em Curitiba. Depois de muitas voltas na quadra para decidir o que faria, fechei os olhos e entrei, num ímpeto de coragem e de amor à profissão.
Na recepção, senti pudor e adrenalina. O organizador do evento Nando, como gosta de ser chamado, vestia uma camiseta com a inscrição “Faça sexo com segurança”. Aquilo me fez rejeitar as possibilidades de que na festa o sexo seria tão livre a ponto de as DSTs terem presença permitida, quase que obrigatória. Fiquei calma, em consideração a quem se entregasse à orgia naquela noite. Mas quando Nando virou, vi que atrás de sua camiseta estava escrito “Segurança”. O que antes me parecia um apelo para que se usasse camisinha, a partir daquele momento me dei conta de que nada mais era que uma gozação, ou um chamariz para que fizessem sexo com ele. E minha calma já não era mais tão evidente assim.
A Rave do Sexo
Sem necessidade alguma de comprovar minha maioridade, entrei. Após atravessar um pequeno corredor escuro, a primeira imagem com a qual me deparei na Rave do Sexo foi a de uma televisão exibindo um vídeo pornográfico e uma cama à frente. Aquele andar era todo assim: várias camas, sofás e quartos que permitiam total visão para quem estivesse no corredor, pois, ao invés de parede, havia vidro. Ali tudo propiciava o sexo. A escuridão extrema quase que passava a mensagem de que, não importa com quem seja, transe. Em frente à naturalidade com a qual a Rave expunha o sexo, foi ali que me despi, não de roupa, mas de qualquer moralismo que pudesse haver dentro de mim.
Vários degraus separavam o primeiro do segundo andar. Mas a distância física não necessariamente representou uma divisão de temas. Embaixo, tudo era sexo. Em cima também. Ao invés de uma banda tocando, de um DJ ou de um DVD de algum artista do momento, um vídeo pornográfico exibido num telão de grandes proporções. Ao invés de jovens dançando ao ritmo do eletrônico, muitas pessoas, das mais variadas idades, bebiam, se tocavam e se despiam em volta do pole dance. Em duplas, trios ou quartetos, todos se divertiam à sua maneira. Algumas mulheres usavam saias ou vestidos curtíssimos, que ressaltavam o bumbum e delineavam todo o corpo. Nada muito diferente do que existe em bares e baladas comuns.
Embora a sexualidade fosse o motivo de se estar ali, ela não era abordada com risadas - como fazem as crianças quando frequentam as primeiras aulas de educação sexual -, nem com olhares preconceituosos, depreciativos ou curiosos. O sexo ali era tratado como algo que ele realmente é: natural do ser humano. A sociedade, através de suas instituições, de seus moralismos e de suas crenças arraigadas em um conceito negativo de sexualidade, condena qualquer evento que propicie o sexo, mesmo tendo este ato tão presente em suas vidas. Porém foi ali, na Rave do Sexo, que minhas especulações se concretizaram, e tive a indubitável certeza do quanto a sociedade é um verdadeiro antro de hipocrisia.
Os frequentadores
No andar de cima, a presença de casais era bastante superior à presença de solteiros. A quase ausência de conversas e de beijos entre os pares me levou à suposição de quem fossem homens com acompanhantes. Mas certamente também havia muitos daqueles casais que estavam ali à procura de outros para trocar de pares entre si, apenas por uma noite. Alguns casais ficavam sentados nas poltronas em frente às mesas, outros dançavam de maneira apelativa, simulando movimentos sexuais. O restante do público se dividia entre a pista e o bar, cujas bebidas, aliás, eram caríssimas (uma lata de cerveja custava R$ 7).
Em um momento, um quarteto iniciou o bacanal em meio à pista. Depois, desceram as escadas para continuar o ato no andar de baixo, dedicado a isso. Todos usavam a pista para se conhecer, no caso dos solteiros, ou para dar início ao que logo depois continuariam em uma das camas, cadeiras eróticas, sofás ou cabines de sexo oral que existiam no primeiro andar.
Para fomentar a entrada feminina, mulheres não pagavam, tinham o benefício do Open Bar por duas horas, brindes de sex shop e, se fossem em grupo de cinco, ganhavam uma garrafa de champanhe. Mesmo com todo o incentivo, a presença masculina ainda parecia predominar, apesar de o preço do ingresso ser R$ 120 no local. Os casais, bastante presentes na Rave, pagavam R$ 50 no local.
Sexo sem neuras
Condeno absolutamente a falta da exigência da carteira de identidade na entrada, a ausência de política de prevenção (embora houvesse camisinhas espalhadas pelo chão do primeiro andar, o que testemunha a prevenção de alguns) e o uso de drogas em festas rave. Sou favorável ao sexo sem neuras, que diminui a incidência de problemas sexuais e psicológicos da parcela conservadora da sociedade.
Na primeira Rave liberal do Brasil, não era apenas a prática de sexo que era livre. Havia também a liberdade de escolha. Lá não se era julgado pelos atos, pelos pensamentos e ideias. Por mais divergentes que fossem as idades, as personalidades e credos dos frequentadores, todos eram iguais na prática do sexo. Ao contrário do restante da sociedade, o público da Rave admite que o sexo é um ato comum, que, independente da posição social, profissional ou familiar, todos fazem de maneira igual. Não havia olhares repressores, não havia a cultura de que sexo é um hábito ruim e de baixo calão. A Rave do Sexo foi o local mais sincero que já fui. Apenas não achei bem feita a escolha do slogan “Uma rave que você nunca viu igual”. Lá eles transam, se divertem, dançam, cantam, conversam e saem à procura de um par ideal. E você, o que faz aos finais de semana?
A Rave do Sexo foi uma festa liberal muito semelhante a outros eventos de mesma proporção que preconizam o sexo livre, o que traz a suposição de que o termo “Rave” tenha sido uma jogada de marketing para atrair público. Portanto, a Rave do Sexo não é a primeira nem a única festa a estimular o sexo como forma de libertinagem. No Japão, todos os anos também ocorre uma festa de cunho sexual. ChamadaKanamara Matsuri, ela acontece toda primavera e homenageia a fertilidade do pênis, que, segundo os participantes, confere proteção à família.